quinta-feira, 1 de maio de 2008

Dia da Liberdade com Revolução Francesa




Jean Michel Jarre: o Ilusionista


Se em tempos a sua música o fez projectar na visão de futuro espacial, com a que a década de 80 olhava para o novo milénio, hoje Jean Michel Jarre é um homem sobretudo preocupado com a Terra e as suas questões climáticas, mesmo que as suas composições continuem a assumir um ambiente que extravasa a nossa órbita planetária.
Com uma peculiar entrada em palco - o músico apareceu por entre o público, cumprimentando a assistência à medida que ia passando - Jean Michel Jarre começou o concerto fazendo uma pequena apresentação deste, sendo acompanhado por um tradutor português, em simultâneo.

Desde logo, o compositor e teclista francês fez questão de manifestar o seu entusiasmo pela estreia nos palcos portugueses, país que, segundo o próprio, foi dos primeiros a acolher a sua música. O facto de a estreia se realizar numa sala como o Coliseu e no dia 25 de Abril, foram motivos de redobrada satisfação para o artista, como o próprio disse diversas vezes (acabando por levar consigo, no final, um cravo branco). Mas o propósito da visita, também explicado por Jarre, foi "Oxygène", que comemora o seu 30º aniversário com uma reedição e uma tournée.

A juntar a tudo isto, o concerto em Portugal seria ainda especial pelos instrumentos que trouxe - vários orgãos e mesas de mistura -, provando que é possível música electrónica sem recurso a computadores, embora «muitos músicos do género só existam graças a eles», como referiu.

Ao vivo Jean Michel Jarre é quase uma espécie de David Copperfield (na música): quer pela maneira, entre o simpático e o excêntrico, com que retribui carinhosamente a atenção dos seus fãs - no final dos temas o músico vinha à frente agradecer com ar triunfante - quer por todo o espectáculo que cria em torno do seu imenso conjunto instrumental-electrónico.

O cenário, as luzes e as projecções das imagens (onde não faltou a alusão à capa do disco, uma caveira a sair de dentro da Terra) que, pelas condições da sala, não foram, em diversidade, muito além da componente cromática e de um painel triângular espelhado, são parte integrante nas composições de Jarre, sendo elas muitas vezes a dar as indicações para as nuances e mudanças de direcção sonoras nas composições.

Acompanhado por mais três músicos, o teclista alternava freneticamente entre os diversos instrumentos, para criar todos os ambientes necessários contidos nos seus temas - num desses momentos mais experimentais veio à frente do palco com um orgão pendurado ao ombro como se de uma guitarra se tratasse. Mas assim que as notas começavam a soar familiares ao público o entusiasmo aumentava com as palmas a acalmarem a vontade de se erguer das cadeiras. Isso mesmo aconteceu assim que se fizeram ouvir 'Oxygene II' e a nova versão de 'Oxygene IV (Penguin)' mais acelerada e enérgica, com forte batida de pista de dança, que proporcionou um dos melhores momentos da noite.

Para o encore, que quase não aconteceu, restaria apenas uma composição. Jean Michel Jarre voltou três vezes ao palco, mas só à terceira é que tocaria, isto porque das primeiras duas vezes limitou-se a agradecer comovido os aplausos do público, não entendo, aparentemente, que mais que o reconhecimento pelo espectáculo e pela sua pessoa aqueles simbolizavam também o pedido para uma última música. Até porque as próprias luzes do Coliseu ainda não se tinham acendido. Jarre correspondeu então aos desígnios da assistência, dedicando-lhes a si e ao Dia da Liberdade o derradeiro tema, não sem antes deixar a promessa de um retorno ao nosso país em breve, desta feita para um espectáculo ao ar livre. Para que não houvesse dúvidas, o tradutor português confirmou-o.

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