segunda-feira, 2 de junho de 2008

Report In-Spot @ Rock In Rio 31/05

A noite prometia boa música, apontado por muitos á partida como o melhor dia do Rock in Rio, quem dos 100 mil que por lá passram não vieram com as suas esperanças defraudadas. O Cartaz prometia e os artistas cumpriram.
A abrir com uma Comunidade Brasileira enorme presente, os Skank conseguiram numa hora compilar 15 anos de carreira.



Ao mais alto nível, os Brasileiros no tema Partida de Futebol até gritaram bem alto que ''Portugal irá ganhar a Eurocopa'', deixando o público em extase.
O ponto alto deste fim de tarde, inicio de noite foi Garota Nacional, ecoando aos 4 cantos da Cidade do Rock.

Seguiu-se a canadiana Alanis Morissette que assinou um concerto competente, alternando entre êxitos de carreira (especial enfoque para o primeiro álbum Jagged Little Pill ) e alguns temas do novo álbum Flavors of Entanglement.
O recinto muito bem composto recebeu de braços abertos logo no início «Uninvited» (tema incluído na banda sonora do filme Cidade dos Anjos ). O piano sublime abriu em apoteose um concerto equilibrado.



O nova tonalidade alourada do cabelo e (dizem as más línguas) alguns quilos a mais não afectaram a atitude de menina rebelde. Alanis percorreu o palco de lés a lés, dançando, pulando e agitando o cabelo como se não houvesse amanhã. «All I Really Want» é a primeira incursão por Jagged Little Pill e aumenta consideravelmente o volume, numa descarga de energia progressiva com pinceladas de harmónica.

Regressa novamente ao registo de estreia para de forma intimista (com guitarra acústica) apresentar «Perfect» e arrancar a primeira grande ovação com «You Learn», um dos bem-sucedidos singles de Jagged Little Pill . Os habituais rendilhados vocais não se ouvem na nova «Citizen of the Planet», uma canção musculada com registo vocal mais adulto e guitarras fortes.



Num novo regresso ao passado, Morissette oferece uma versão mais lenta de «Hand in My Pocket», mais a sua harmónica roufenha. De seguida mais dois temas novos: «Underneath», o single de apresentação de Flavors of Entanglement , em ritmo calmo, e «Moratorium», em cujo final rodopia descontrolada.

A sequência final não poderia ser mais do agrado do público: de rajada, Morissette canta «You Oughta Know» (single que a apresentou ao mundo), com a audiência em apoteose, «Ironic», alvo de coro afinado, e «Thank You», mostrando a sua faceta mais mística e agradecendo ao público ao mesmo tempo.

O alinhamento fortemente baseado nas canções mais conhecidas e a força das novas canções foram argumentos mais que suficientes para apagar da memória um concerto morno no festival Sudoeste em 2002. O eclectismo da canadiana agradou visivelmente ao público, que se deixou guiar entre os refrões mais orelhudos e as guitarras fortes. Alanis Morissette parece estar a chegar à idade maior e fica-lhe bem.

Depois de Alanis, o Romantismo subiu ao Palco com o Latino Alejandro Sanz, agora de guitarra acústica em riste. Um dos mais bem sucedidos cantores hispânicos da actualidade. O madrileno tem baseado o seu espectáculo em baladas quase «smooth jazz» e temas mais ritmados que, quer pelo protagonismo das cantoras de apoio quer pelo registo da banda, se aproximam de alguma música caribenha.



Em palco, há piano, percussão e sopros, e houve também Ivete Sangalo, uma surpresa recebida com emoção pelos espectadores. Depois da actuação no dia de abertura do Rock In Rio Lisboa, a brasileira regressou à Cidade do Rock para acompanhar Alejandro Sanz no seu maior êxito, «Corazón Partido». A parceria não se ficou pela cantoria: Ivete, uns bons palmos maior que Sanz, também trocou com o espanhol uns passos de dança que entusiasmaram os fãs de ambos.

Foi sem dúvida o momento alto do espectáculo, que desde então tem vindo a perder algum gás. Nem a voz rouca de Sanz, por vezes aparentada da de Joe Cocker, nem o virtuosismo dos seus músicos impede que entre a plateia se ouçam comentários como: «Devia ter sido ele primeiro e a Alanis depois». Sanz é simpático e tem assinado uma prestação profissional, mas não é, em Portugal, uma estrela da grandeza que tem em Espanha.

Quem esperou e desesperou por os Bon Jovi, não perdeu por tal, que o digam os milhares de Fâs presentes no recinto.



No enfase geral, foi até agora, o mais impressionante dos concertos da edição deste ano do Rock In Rio Lisboa. 13 anos depois da última passagem por Portugal, na altura para um espectáculo no Estádio de Alvalade, os Bon Jovi tomaram de assalto o Palco Mundo e deram um concerto fabuloso – a abarrotar de êxitos, mas também de confiança e de um entusiasmo que, de tão palpável e genuíno, se tornou contagiante.

À espera de Jon Bon Jovi, Richie Sambora, Tico Torres, David Bryan e Hugh McDonald, o baixista que em 1994 substituiu oficiosamente o membro fundador Alec John Such, estava um Parque da Belavista a rebentar pelas costuras. Tal como na véspera, terão estado na Cidade do Rock mais de 90 mil pessoas – mas ao contrário do que aconteceu no primeiro dia, não houve lugar para actuações periclitantes ou prestações «apenas» competentes.



Um concerto dos Bon Jovi faz-se, em 2008, de grandes sucessos como «You Give Love A Bad Name», «Livin’ On A Prayer» e «Always», bem como de amostras de um presente digno via «Lost Highway» ou «Whole Lot of Leavin’», temas mais recentes onde a banda de New Jersey arrasta a asa à folk.

Mas o que distingue os Bon Jovi de qualquer outra banda com um bom repertório para concertos de estádio é a entrega colocada em cada minuto do espectáculo. Jon Bon Jovi, cuja voz já não apresenta a elasticidade de outros tempos, sem no entanto comprometer, é um mouro de trabalho. Entretém uma multidão sem fim à vista – perdemos as contas às vezes que colocou a mão sobre os olhos, como quem tenta perceber onde acaba aquele mar de gente – e consegue fazer com que cada admirador sinta que é para ele que as palavras, os gestos, os esgares felinos são endereçados. É um entertainer notável, e a forma como agarrou o público desde o primeiro segundo – apesar de o arranque se ter feito com uma das suas músicas mais «jovens» - irá ficar para a história do Rock In Rio Lisboa.

Tal como outro «cliente» do Rock In Rio, Sting, Jon Bon Jovi envelheceu graciosamente, e os coletes justos, no final trocados por uma camisola da selecção nacional, continuam a mexer com as muitas senhoras presentes na plateia. Mas é injusto reduzir a prestação dos Bon Jovi ao seu líder carismático; ao guitarrista Richie Sambora, por exemplo, coube até cantar «I’ll Be There For You», balada do álbum New Jersey , de 1988.



Mais surpresas no alinhamento: «Born To Be My Baby», também de New Jersey , foi logo a segunda música da noite, pondo a Belavista a entoar o «na-na na-na!» que se segue ao refrão; «Runaway», o primeiro single de sempre dos Bon Jovi, com data de 1983, irrompeu pela noite com os seus teclados nervosentos, e «Bad Medicine», novamente de New Jersey , emparelhou lindamente com a mais recente «Have a Nice Day», que a antecedeu.

Tantos regressos ao passado não tiraram coerência ao espectáculo, permitindo até compreender como, na sua essência, a música dos Bon Jovi pouco mudou ao longo de quase 30 anos. Continuam a ser canções optimistas, a encher o peito de ar até ao refrão, que fazem mexer esta gente e os seus fãs. Foi assim em «You Give Love A Bad Name» - refrão exclamado «a capella» por quase 100 mil pessoas, impossível não arrepiar - , em «In These Arms», hit semi-esquecido de Keep The Faith , ou até em «Have A Nice Day», como que a provar que, neste «comboio», há fãs a entrar em todos os apeadeiros e muitos dos admiradores mais jovens só conhecem a banda há meia dúzia de anos.



Como se tudo isto não fosse suficiente, o concerto reservou ainda algumas surpresas ao público português – desde a passagem por «Mercy», de Duffy, e «Start Me Up» dos Rolling Stones a meio de uma versão bluesy de «Sleep When I’m Dead», à camisola da selecção portuguesa que Jon Bon Jovi envergaria no final do concerto, a noite de Sábado foi rica em momentos para mais tarde recordar. Nenhum deles terá tido, porém, mais força que «Livin’ On A Prayer», ainda e sempre o hino de uns Bon Jovi «amigos do povo» e crentes num amanhã melhor. As primeiras frases da canção desenharam-se na penumbra, o resto da canção foi uma explosão – de emoções na plateia, de fogo de artifício no céu.

Os Bon Jovi podem fazer baladas como já não se usa e não ser propriamente bem vistos no circuito das bandas «cool», mas enquanto tiverem o público – merecidamente – a seus pés como ontem à noite, o gesto com que Jon Bon Jovi se despediu de Lisboa – de mão no peito – nunca parecerá descabido.

Sem comentários: